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Dança para todos, sem preconceitos 

Em pleno século 21, a dança ainda é rotulada como atividade feminina e, quando
representada por homens, muitas vezes se depara com o preconceito de gênero.

Por: Caique Vítor

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Foto de Eric Bandiero  no espetáculo “The Violet Hour” em Nova York, realizado pela Rioult Dance NY, companhia de dança contemporânea internacional conhecida. 

      Quem nunca ouviu frases como “isso é coisa de homem” ou “aquilo é coisa de mulher”, carregadas de machismo, preconceito e restrições impostas por pensamentos fechados de pessoas em nossa sociedade? A dança, que expressa sentimentos, emoções e liberdade, diversas vezes é taxada como atividade ou arte somente para mulheres. Isso separa e rotula essa representação artística como sendo para um gênero apenas, e essa ideia ainda é muito presente na sociedade atual. 

      Na década de 80, o então prefeito de São Paulo Jânio Quadros proibiu homens de frequentar aulas de balé nas dependências do Theatro Municipal de São Paulo, ligado diretamente à prefeitura. Além de extinguir as classes de balé masculinas no período noturno, ele também impediu a entrada de homossexuais na instituição. 

     Ainda hoje, muitas pessoas costumam relacionar a dança, principalmente alguns de seus estilos, quando não praticada por mulheres, à homossexualidade. Por meio de insultos, brincadeiras de mau gosto e diversos padrões é que a sociedade impõe esse preconceito com meninos que dançam, o que afeta diretamente em um possível afastamento de garotos dos palcos ou da vida artística. 

A arte de dançar 

      A dança nada mais é do que a arte de movimentar expressivamente o corpo, seguindo movimentos ritmados, em geral ao som de uma música. Definida como uma das formas de expressões mais antigas usadas pelos homens, ela já existia em 4.000 a.C, no antigo Egito, onde era utilizada com intenções religiosas, havendo as chamadas danças astroteológicas em homenagem a Osíris.       Mas a existência dessa forma de expressão remonta aos tempos pré-históricos. Em algumas cavernas africanas, europeias e asiáticas, já havia desenhos dos primeiros homens a praticar essa arte. Foram também encontradas tumbas de mais de 30.000 anos decoradas com figuras de dançarinos no Egito e na Índia.

    O balé clássico, por sua vez, surgiu por volta do século 15, na Itália, tendo sido criado e inicialmente praticado por homens. As mulheres vieram a aparecer nessa arte somente em 1681.

   Há diversas formas de danças, sendo as mais praticadas no mundo as clássicas, entre as quais o balé clássico é uma das mais conhecidas, o jazz, a contemporânea, entre outras. 

   O Mapeamento da Dança nas Capitais Brasileiras e no Distrito Federal, feito em parceria com a FUNARTE, a MINC e a UFBA, contém um relatório diagnóstico da dança em oito capitais do Brasil. Em São Paulo, hoje, apenas 30% dos alunos de dança são homens, pois muitos meninos têm receio de se matricular em um curso de balé ou dança contemporânea, por conta da baixa quantidade de garotos na área. Muitos jovens dizem que as escolas tradicionais de dança clássica costumam ter salas repletas de meninas, e há algumas que nem matrículas de homens fazem. 

   Mas há exceções, que podem ajudar a gerar mudanças futuras. Algumas tradicionais escolas de artes recebem um grande número de bailarinos, fazendo alavancar os dados estatísticos e gerando esperança para o fim dos prejulgamentos. A Escola de Teatro Bolshoi, no Brasil, por exemplo, é composta por alunos de diversas regiões do país, sendo uma das mais disputadas e nomeadas instituições brasileiras, e quase 40% do seu quadro de alunos é constituído de meninos. 

    O estudante de dança contemporânea Marcus Vinicius nutre um grande amor pela arte. “Tive contato com a dança desde criança. Na ocasião, a meu ver, ela era algo inacessível e difícil de aprender, mas com o passar dos anos entendi que tudo é possível quando queremos algo. A dança, para mim, representa superação e amor, tendo surgido em momentos muito complicados da minha vida. Em períodos depressivos e tristes encontrei refúgio na dança, descobrindo que posso expressar a vida por meio dela. Sem sombra de dúvidas, a dança mudou minha vida e a minha forma de ver o mundo.”, contou o estudante. “Acredito que o preconceito ainda prevalece, mas é algo que precisamos enfrentar e romper” finalizou Marcus, que disse ter sofrido muito preconceito, principalmente no âmbito para o qual queria levar a arte, a igreja. Isso porque a religião, os padrões e as doutrinas e tradições tornaram a representação da dança por um homem algo chocante.

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Foto de: arquivo pessoal de Marcus Vinicius da Silva Aguiar

     A professora de dança Lucy Martins, formada pela ETEC de Artes e especializada em dança contemporânea, relatou que a arte é muito aberta e abrange todos os tipos de públicos e pessoas. Mas, em relação à dança, há o pensamento arcaico de que todos os homens praticantes são homossexuais, o que não é verdade. O preconceito não está na arte, nem na dança, e sim nas pessoas. Lucy enfatizou que nunca presenciou atos preconceituosos dentro de salas de aula: “O único preconceito que há é o do público de fora, de quem assiste. As pessoas não entendem,na sua essência, o que é a arte, o que é a dança e o que queremos passar, e com isso sempre surgem aqueles comentários tipo ‘dança que nem homem’, ou ‘olha que afeminado’. Tudo isso porque a dança é expressiva, é muito corporal. Mas na dança em si nunca presenciei nenhum preconceito com relação à ideologia de gênero, somente vindo do público mesmo.”

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Foto de: Facebook de Lucy Martins

Além da Arte 

        Além de gestos, expressões, movimentos ou manifestações. No vídeo a seguir iremos conhecer um pouco mais sobre o estudante de dança Marcus Vinicius da Silva Aguiar e da Artista e Professora Lucy Martins que falaram um pouco sobre o que a dança representam para si e como eles iniciaram sua caminhada artística. 

Jornal-laboratório do curso de Jornalismo do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo - Edição: Dezembro de 2019

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