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O Pacaembu não é mais nosso

Por: Caynan Abade

         “O meu, o seu, o nosso Pacaembu”. Quem frequenta o Estádio Paulo Machado de Carvalho, mais conhecido como Estádio do Pacaembu, está acostumado a ouvir essa frase. Mas agora o “Paca”, como é chamado, não é mais “nosso”, e sim da concessionária Allegra Pacaembu, pelos próximos 35 anos. A empresa assumiu todo o complexo após a assinatura do contrato de concessão por parte do prefeito de São Paulo, Bruno Covas, em setembro deste ano. 

         A concessão do complexo do Pacaembu abrange, além do campo de futebol, a gestão da​ piscina olímpica, das duas quadras de tênis e do ginásio poliesportivo. A​ praça Charles Miller e o Museu do Futebol não estão inclusos. Segundo Bruno Covas, o valor total do arremate foi de 115 milhões de reais, a serem pagos ao longo dos 35 anos da concessão.  

         Existe a previsão de um investimento de 300 milhões de reais em reformas em todo o complexo, o que inclui a construção de novos camarotes e áreas de alimentação e convivência, reestruturação da área de fachada não tombada, restauro do bar de tênis, entre outras reformas menores. 

         Mas a maior polêmica gira em torno da demolição do “Tobogã”, uma arquibancada com capacidade de aproximadamente 10 mil pessoas, o que diminuirá a capacidade do estádio de 37 mil para 26 mil lugares. Em seu lugar, haverá um prédio de cinco andares e quatro subsolos, que totalizará 44 mil m² de área construída. A obra contará com cafés, ​ restaurantes, escritórios, estacionamento e uma praça que conectará as ruas Desembargador Paulo Passaláqua e Itápolis. 

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Projeto de reforma do Pacaembu – Foto de: Divulgação 

A história do Paca

         A construção do estádio do Pacaembu foi idealizada e iniciada em 1936, com ajuda de um projeto de apoio nacional aos esportes feito pelo então presidente do Brasil, Getúlio Vargas, que queria tornar a nação mais forte através do futebol. Com a instauração do regime do Estad​o Novo, ​ em 1937, algumas mudanças foram realizadas no comando da obra, mas o projeto se manteve. 

         A inauguração ocorreu há mais de 79 anos, no dia 14 de novembro de 1940, com uma partida entre o Palmeiras-SP e o Curitiba-PR, que foi vencida pelo clube paulista por 6 a 2. A primeira bola a entrar no gol foi chutada pelo jogador Zequinha, do time paranaense, com apenas dois minutos de jogo. 

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Inauguração do Pacaembu – Foto de: Prodam-SP 

         O nome oficial do estádio é Paulo Machado de Carvalho (o apelido Pacaembu se dá por conta do bairro onde ele é situado), estabelecido em 1961. Foi uma homenagem ao chefe de delegação da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1958, na qual o Brasil acabou se sagrando campeão pela primeira vez.

         O maior público registrado nos quase 80 anos de história do estádio foi o do dia 25 de maio de 1942, com 71 mil espectadores. O jogo foi entre Corinthians e São Paulo e acabou empatado em 3 a 3. A partida também foi marcada pela estreia de Leônidas da Silva no Tricolor Paulista. 

         A primeira partida da seleção brasileira no Pacaembu foi no dia 17 de maio de 1944, contra a seleção uruguaia, em um amistoso. O jogo acabou em 4 a 0 para o Brasil. A seleção jogou relativamente pouco no “Paca” desde então, menos de 40 vezes no total. 

         A primeira Copa do Mundo de Futebol depois de um intervalo de 12 anos por conta da 2ª Guerra Mundial, que foi também a estreia do Brasil como sede da competição, aconteceu em 1950 e contou com o Pacaembu, que recebeu seis jogos no total, incluindo um empate entre Brasil e Suíça por 2x2. 

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Paulo Machado de Carvalho – Foto de: Coelho Fonseca News 

         Em 1963, quando a cidade de São Paulo foi sede dos jogos Pan-Americanos, o Pacaembu foi um dos palcos da disputa e recebeu as finais do futebol e do atletismo, além das cerimônias de abertura e encerramento do torneio. 

         Em setembro de 1969, o estádio passou pela sua primeira grande reforma, na qual houve a construção do “Tobogã”. Em seu lugar, havia anteriormente a famosa concha acústica, que acabou sendo demolida. 

         A Lei Municipal nº 13.989, de 10 de junho de 2005, criou nas dependências do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho o Museu do Futebol, que foi inaugurado no dia 29 de setembro de 2008, como fruto de uma parceria entre os governos Municipal e Estadual e a Fundação Roberto Marinho. 

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Museu do Futebol – Foto de: Governo do Estado de São Paulo 

Os 4 Grandes clubes de São Paulo e o Pacaembu 

         O Sport Club Corinthians Paulista foi o que mais usufruiu do Pacaembu. O estádio municipal era a principal casa do “Timão” até a inauguração da Arena Corinthians, em 2014. Foi no “Paca” que o time do Parque São Jorge conquistou um dos títulos mais importantes de sua história: a sua primeira e única Libertadores da América, quando bateu o Boca Juniors por 2x0, com dois gols do atacante Emerson Sheik. 

         “O Pacaembu é muito importante. Vi muitos jogos lá, é como se fosse nossa casinha, tem a história do título da libertadores e de 6 copinhas que assisti lá. Afinal, é quase como se fosse o estádio do Corinthians e foi por um bom tempo onde o Corinthians mandava os jogos”, disse o dono do perfil @blogcorintiano no Instagram, Fábio Mosk. 

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Time do Corinthians e taça da Libertadores – Foto por: Marcos Ribolli/Globo

         O Pacaembu é a segunda casa do Santos Futebol Clube, cujo estádio principal é a Vila Belmiro, situado na cidade de Santos. Quando quer trazer os jogos para a São Paulo, onde está a maior parte da sua torcida, o “Peixe”, como o time é chamado, escolhe o “Paca”. Foi nele que o clube conquistou seu terceiro título da Libertadores em 2011 e sua segunda Recopa Sulamericana em 2012.         “Pessoalmente, o Pacaembu foi o estádio onde eu vi um jogo ao vivo pela primeira vez, então tenho um carinho especial por ele. Agora, do lado santista, o vejo como uma segunda casa, onde o Santos joga à vontade, e que me traz lembranças boas de títulos”, falou o torcedor do Santos e dono do canal do YouTube "Sempre Santos", Henrique Khoury.  

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Neymar comemorando gol na final da Libertadores – Foto de: Santos FC

         O Palmeiras, assim como o Santos, tem o Pacaembu como 2ª casa, utilizando-o quando o Allianz Parque, seu estádio principal, não está disponível. Recentemente, enquanto sua arena estava em reforma, entre 2010 e 2014, o time utilizou bastante o “Paca”, onde já conquistou o Campeonato Brasileiro em 1994, jogando a final contra o Corinthians, o seu maior rival.          

         “Eu​ acho que o Pacaembu é importantíssimo para o Verdão, pois quando nossos estádios (Parque Antártica e Allianz Parque) estavam indisponíveis, na maioria dos casos o Pacaembu se tornava nossa casa. Não tem a mesma força que a casa do Verdão, porém gosto muito do estádio e respeito sua história”, contou o torcedor do Palmeiras e dono do perfil no Instagram @porconation, Pedro Belliza.

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Time do Palmeiras comemorando título brasileiro de 1994 – Foto por: Edu Garcia/Estadão 

         Além de alguns estaduais, o São Paulo não ganhou títulos de grande relevância no Pacaembu. Apesar disso, os seus torcedores nutrem um carinho pelo estádio, uma vez que era no “Paca” que o clube mandava a maioria dos jogos antes da construção do Estádio do Morumbi em 1960. 

         “O Pacaembu é uma arena muito querida, creio que não só para os torcedores do São Paulo, mas para todos do estado. Considero um estádio muito importante na história do tricolor, pois o São Paulo jogou muito lá no começo da sua história. Particularmente, eu gosto bastante de assistir jogos no Pacaembu, e é uma pena o estádio ter ficado de lado com a construção das novas arenas”, disse o torcedor do clube e dono do perfil no Instagram @coracaosoberano, Kley Cardoso. 

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Torcida do São Paulo concentrada no Tobogã – Foto por: Fernando Dantas/Gazeta Press 

         O Pacaembu é, e sempre será, um grande marco do futebol brasileiro, quiçá do futebol mundial. Sempre foi palco de grandes histórias, jogos marcantes e conquistas de títulos importantes. Agora, com a concessão e as reformas, e após um período ruim e de poucos jogos, o Paca tem tudo para voltar aos holofotes.  

Jornal-laboratório do curso de Jornalismo do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo - Edição: Dezembro de 2019

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