Ciclovias de São Paulo dividem opiniões de ciclistas
Por: Valentina Alayon

Em São Paulo, as bicicletas são utilizadas como meio de transporte por uma grande parcela da população, e as ciclovias geram integração e conectividade para esse grupo que utiliza esse meio. Desde 1976, quando a primeira ciclovia foi feita na Avenida Juscelino Kubitscheck, o espaço é utilizado para lazer e transporte. De tempos para cá, muitas atitudes de governos anteriores e atuais da cidade de São Paulo geram consequências importantes e críticas sobre o uso de ciclo faixas, dividindo opiniões dos ciclistas. Dessa forma, é necessário ouvir a população e repassar para os órgãos públicos o que poderia - e deveria - ser feito para haver um uso ainda melhor do que a cidade pode oferecer, principalmente dado o número de pessoas que depende desse espaço para se locomover.
É inegável que avanços foram feitas na questão de transportes considerados “verdes” e sustentáveis. Em 2015, por exemplo, foi criada a Câmara Temática de Bicicleta, com conselheiros e conselheiras que discutem as políticas cicloviárias e avaliam o interesse público dos projetos criados. Já em 2016, o ex-prefeito Fernando Haddad concluiu a promessa de criar 400 km de ciclovias e, nos três anos seguintes, mais 103,6 km foram estruturados na cidade. Porém, atualmente, na gestão Bruno Covas, algumas ciclovias estão sendo removidas/apagadas sem aviso prévio e, segundo a prefeitura, “nelas estão sendo feitas obras de requalificação”, sem qualquer evidência sobre essa informação.
Bruno Genova, de 24 anos, um dos mais de vinte ciclistas entrevistados, diz que sua opinião é dividida sobre o atual funcionamento das ciclovias: “eu andava muito em 2015, uns 20 km por dia, no mínimo. As ciclovias estavam começando a aparecer e foram melhorando com o tempo. Colocaram farol para as bikes em algumas, melhoraram a sinalização (com tartarugas e olhos de gato) no asfalto também. No geral valorizaram, com certeza. Mas algumas, principalmente aquelas dentro de bairros menores, que são menos utilizadas, não têm essa atenção. O que realmente parece vingar são as de avenidas”, relatou, referindo-se aos trajetos que fazia diariamente.
Assim como Bruno, grande parte dos entrevistados ressaltou a diferença latente de manutenções e mudanças práticas, quando comparadas ciclovias de avenidas grandes às menores, de bairro. Felipe Barci, de 20 anos, outro estudante que utiliza esse ambiente como meio de transporte, pareceu muito indignado com a situação atual. “Eu ando de skate e bike como lazer e como meio de transporte para minha faculdade. A ciclovia em questão, a que eu mais pego, é a da Fradique Coutinho e ela é péssima, toda desnivelada, quase impossível de andar de skate, já tomei alguns capotes por causa do chão. É péssimo, já tentei me comunicar com órgãos públicos que efetuam as manutenções, e nada. Nem se dão ao trabalho de responder ou pelo menos fingir que dão alguma importância.”, disse, extremamente decepcionado.
O estudante ainda ressaltou diversas vezes a Avenida Faria Lima como uma das únicas que valem a pena nas questões de estrutura e segurança aos ciclistas: “ando também na Faria Lima, onde a ciclovia é diferenciada. Muito mais decente, e o chão é liso, apenas com alguns desníveis pequenos.”, comentou.
Felipe não é o único a se posicionar sobre as diferenças drásticas nas ciclovias, claramente perceptíveis em diferentes ambientes de São Paulo. Para 90% dos entrevistados, quando perguntados se preferem ciclovias menores ou maiores, a preferência não importa, uma vez que há algumas impossíveis de se locomover. O que importa para eles não é o gosto, e sim as possibilidades viáveis, por isso essa grande porcentagem optou pelas grandes avenidas como resposta, mesmo que não seja o caminho mais eficiente até o destino final.
A argumentação de Felipe continua: “não sei se notei tantas melhoras assim nas ciclofaixas no período dos últimos dois anos. Com a mudança do governo e etc, eu notei, sim, que aumentou bastante a quantidade, mas eu já cansei de ver essas ciclofaixas em lugares de impossível circulação. Essas ciclovias menores, como a da Fradique, que não são realmente construídas, só pintadas o chão de vermelho, são horríveis. Não dá ânimo nem para passear por ali”.
Com razão: as ciclovias realmente aumentaram em quantidade nos últimos anos, dada a iniciativa de Fernando Haddad em seu mandato como prefeito, anos atrás. Elas avançaram em questão de número, entretanto não se pode dizer o mesmo sobre suas estruturas. Abaixo está uma imagem, produzida pelo site da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), mostrando a infraestrutura cicloviária atual da cidade de São Paulo. Nela, é possível observar como muitos dos percursos marcados em vermelho (as ciclovias) parecem estar à deriva no mapa, sem continuação e/ou conexão com ciclovias maiores.
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Fonte: CET
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Através da imagem, é possível perceber que ao menos a quantidade de bicicletários, representados pelos quadrados em vermelho, é favorável e bem distribuída na cidade, o que facilita a vida das pessoas que dependem desse meio de transporte.
Muitos telefonemas e e-mails foram enviados ao Ministério do Transporte, porém sem obtenção de respostas, nenhuma das vezes. Quem atendeu ao chamado e concedeu uma entrevista foi Felipe Marques, 22, formado em Educação Física pela FMU, especializado em rotas alternativas para ciclistas. O mesmo afirmou que “apesar dos apesares, é nítido para qualquer um que o número de pessoas que utilizam esse espaço cresceu, as ciclovias estão cada vez mais cheias, independente do meio de transporte: bicicletas, skates, patinetes”.
Cheio de esperança, ele ainda falou sobre os passos já dados para uma vida com transportes sustentáveis: “não dá também só para reclamarmos. Claro que haverá trajetos ruins, mas se compararmos com 4 anos atrás, era impossível andar tão livremente para os lugares. Não tinha esse espaço. Já fizemos muitos avanços, por causa da pressão feita por aqueles que querem uma vida mais saudável. Quando imaginaríamos que existiria uma época em que uma das maiores avenidas da cidade (Avenida Paulista) fecharia um dia da semana apenas para aqueles que não utilizam carros? Isso pra mim já traz uma enorme satisfação e mostra quanto estamos indo para frente”.
O que se pode esperar é que, cada vez mais, esse meio seja valorizado, uma vez que, além de útil àqueles que o utilizam, são ambientes em que circulam meios de transportes que não produzem poluição, proporcionando benefícios a toda sociedade. Políticas públicas e pressão social são os diferenciais para que essa iniciativa tome os rumos certos e seja cada vez mais bem vista, não só na cidade, como também no país inteiro.