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SP 466 anos: uma cidade caracterizada por migrações

Próximo ao aniversário de São Paulo, a cidade continua sendo um forte polo cultural e econômico

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                                                                                                                                  Por: Laura Nogueira

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Imagem: Renato Cerqueira/ Estadão Conteúdo (Rua 25 de março, 20 de abril de 2019)

           Entre as décadas de 1950 e 1970, durante o auge da industrialização no Brasil, a migração nordestina para a região Sudeste, em especial para o Rio de Janeiro e São Paulo, foi intensa. O êxodo rural, que consistia no deslocamento da população com destino às cidades, atingiu o seu auge durante a década de 1950. Esse tipo de migração aconteceu, principalmente, em razão do processo de industrialização, que proporcionou uma intensa mecanização das atividades agrícolas, expulsando os pequenos produtores.

             Ao longo do tempo, as capitais se tornaram grandes polos de atração populacional por oferecerem mais oportunidades. Em 2013, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) fez projeções sobre o fluxo migratório entre os Estados, relatando que as migrações não são tão frequentes como a décadas atrás. Contudo, a pesquisa demonstra que ainda é do Nordeste que sai a maioria dos emigrantes, tendo saído de seus locais de origem mais de 50.700 pessoas.

              Isabela Mota, 18 anos, é uma das pessoas que recentemente migraram para a capital paulistana. Vinda de Belém do Pará, a estudante imigrou para São Paulo em janeiro deste ano, visando uma melhor oportunidade de estudo e trabalho. Sendo apaixonada por moda desde pequena, a jovem relata que, infelizmente, na Região Norte em geral, essa área ainda não é muito desenvolvida, o que a motivou a imigrar.

           Durante o seu percurso até São Paulo, Mota acabou mudando o rumo de sua vida, indo estudar jornalismo. Quando questionada sobre como foi lidar com a mudança de Estado, a jovem relata que se sente privilegiada por estar aqui: “Tive apoio da minha família e do meu namorado durante esse processo migratório. Lógico que ir para um lugar que até então é desconhecido, com uma cultura totalmente diferente da sua, acaba tornando tudo mais difícil. Para mim foi um grande choque cultural.”

            Isabela ainda conta que já sofreu preconceito por ser de outro Estado. Devido a supervalorização do Sudeste, muitas pessoas acreditavam que os indivíduos vindos de outros locais, como Norte ou Nordeste, não eram tão qualificados e por isso ela acabava sendo subestimada durante os trabalhos e atividades na faculdade. Atualmente, ela acredita que as pessoas estão mudando de pensamento e São Paulo está se tornando uma capital mais receptiva aos migrantes.

             A xenofobia também se fez presente na vida da professora de educação infantil, Ioleta Lopes, que imigrou há 33 anos. Ela relata que viveu diversos momentos onde pessoas se referiam a ela com termos preconceituosos por ser nordestina. Apesar disso ela nunca se deixou abater pelos comentários. Para ela, as diferenças nos fazem especiais e deve-se ignorar tais atitudes. Vinda do Ceará para São Paulo, Ioleta teve de imigrar aos 16 anos para melhorar a sua condição de vida. Para ela, esse processo não foi fácil por diversos fatores; contudo, era necessário, pois a migração era a única forma de sobrevivência naquele momento.

           Quando veio para São Paulo, Lopes visava conseguir um trabalho e enviar dinheiro para os seus pais no Nordeste e, devido a isso, acabou trabalhando em diversas profissões. Hoje em dia, ela é professora concursada da rede estadual paulistana, e aos 49 anos afirma que “na época eu não tinha ideia da importância de tudo isso (migrar), mas meus pais já tinham. Minha irmã já morava em São Paulo há um bom tempo e ela tinha me dito que vir para cá seria uma boa ideia, porque eu teria chance de estudar e conseguir um trabalho melhor. O que realmente aconteceu.”

           Ao longo do tempo, São Paulo se tornou uma efervescente capital econômica, devido às migrações que trouxeram benefícios para quem se deslocava, para seus familiares e para os Estados de origem e destino. Em 2016, o Banco Mundial estimou que as remessas de dinheiro enviadas por migrantes aos seus parentes já haviam chegado à soma de 429 bilhões de dólares. Atualmente, o valor representa mundialmente mais de três vezes o orçamento de ajuda internacional para o desenvolvimento.

             Além de ajudar na economia do Estado, os migrantes enriquecem a cultura das comunidades que os recebem com técnicas e saberes; estes que muitas vezes eram desconhecidos por parte dos moradores locais.

               Segundo o professor de Antropologia Cultural Ronaldo Mathias, quando as pessoas se locomovem de um lugar ao outro, elas acabam assimilando os valores e práticas de cultura umas das outras. Esse processo de aculturação pode se dar muitas vezes de forma voluntária, quando pessoas chegam em outras cidades e em outros países, mas pode ocorrer também de forma forçada ou até mesmo violenta. Para o professor, “as pessoas podem ser motivadas a migrarem por diversos motivos. Elas podem se locomover por motivos de ordem econômica, como também por desastres ambientais, fome ou até mesmo perseguição política. Em cada país e em cada época pode-se verificar migrações que aconteceram por motivos muito variáveis.”

                Em meio a miscigenação de culturas desenvolvidas com as migrações, São Paulo comemora em janeiro do próximo ano seu 466º aniversário. Buscando celebrar a diversidade do Estado, a capital paulistana promoverá diversos eventos e atrações para a população.

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           Laura com Você #01: Próximo ao aniversário de São Paulo, migrantes relembram momentos importantes de seus processos migratórios para a cidade paulistana e o choque cultural que sofreram 

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              No episódio #01, Laura Nogueira conversa com o professor de Antropologia Cultural Ronaldo Mathias, que explica como ocorrem os processos de aculturação e as dificuldades de quem migra. Além disso, o podcast conta com a participação da Ioleta Lopes, professora de educação infantil que migrou há 33 anos para São Paulo e da estudante de jornalismo, Isabela Mota, que recentemente migrou para a capital.

Podcast - Histórias de migraçõesLaura Nogueira
00:00 / 09:17

Jornal-laboratório do curso de Jornalismo do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo - Edição: Dezembro de 2019

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