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A capital pedala em direção a um futuro mais verde

Como a implantação e popularização das ciclovias na Grande São Paulo podem incentivar estilos de vida mais saudáveis e sustentáveis

                                                                                                              Por: Giovanna Canteras

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Ciclovia da Avenida Paulista em São Paulo. Agosto de 2015. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

       Sob a gestão de Fernando Haddad, prefeito da cidade de São Paulo entre 2013 e 2016, foi implementada a maior parte da quilometragem de ciclovias que a capital possui. O petista havia colocado como meta - junto ao secretário dos transportes, Jilmar Tatto - acrescentar até o fim de sua gestão mais de 400km de expansão à malha cicloviária da capital e, apesar de controvérsias e especulações durante o processo de construção, assim foi feito. Em abril de 2016, concluíram a marca e a superaram. Agora, na gestão Bruno Covas, mais promessas foram feitas em relação à mobilidade na cidade e suas ciclovias.

       Na manhã do dia 10 de julho de 2019, em visita ao centro operacional da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), o prefeito anunciou, ao lado do vice-governador Rodrigo Garcia, um novo plano cicloviário para a capital. De acordo com Covas, o objetivo é “reorganizar, ampliando a quantidade de ciclovias, mas dando mais eficácia e eficiência”.

         De acordo com a CET(Companhia de Engenharia de Tráfego), a cidade de São Paulo conta atualmente com 503,6km de vias com tratamento cicloviário permanente, sendo pelo menos 400km desse número, ciclofaixas. Apesar de não ser um meio de transporte acessível ou viável para todos, seu uso pode beneficiar a população geral. Segundo com pesquisadores da Escola de Saúde Pública da Universidade de Columbia, as ciclovias são um dos melhores investimentos possíveis para municípios que gostariam de melhorar sua saúde pública.

        Em meio a tantas opiniões divergentes dos cidadãos, quais são os factuais benefícios que a aplicação nessa área nos traz como comunidade?

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Ciclovia da Avenida Marginal Pinheiros em São Paulo. (Foto: debicicleta.com)

SUSTENTABILIDADE

         Em uma cidade tão movimentada e populosa quanto São Paulo, a poluição se torna um fator que cresce exponencialmente com a densidade demográfica e afeta todos os cidadãos. O enorme fluxo de carros circulando pela metrópole resulta, todos os dias, em congestionamentos carregados e grande emissão de gases poluentes para o meio ambiente e para a saúde.

       Muitas medidas podem ser tomadas todos os dias na rotina de cada um para evitar ou diminuir o impacto que temos na natureza, como no consumo e descarte de plástico e separação de lixo produzido para a reciclagem. Utilizar bicicleta como meio de transporte também se enquadra em uma delas.

       Ao circular utilizando automóveis ou qualquer tipo de transporte motorizado, um rastro de contaminação é deixado na atmosfera. Além do Monóxido de Carbono (CO) e Dióxido de Carbono (CO2), o Material Particulado (MP) também é de grande impacto no meio ambiente e não encontra barreiras físicas, afetando diretamente órgãos vitais, como o pulmão, e podendo causar sérias condições como a asma, bronquite, tipos de alergias e outras doenças cardiorrespiratórias.

       O Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) apurou em um estudo que os automóveis são responsáveis por, pelo menos, 72,6% das emissões de gases efeito estufa (GEE), grande vilão no aquecimento global. O site do Instituto possui um simulador de variantes, o qual possui uma maneira interativa de enxergar os níveis de poluentes e seus tipos. No mapa, cada célula representa uma área de 1 km². Tal plataforma e informações foram desenvolvidas em 2017, e os números alcançados são uma média diária de emissões após uma coleta de informações e estudos.

          Abaixo é possível observar, através de recortes feitos no simulador, uma quantidade média de Monóxido de Carbono (CO) emitida na capital entre as 19h e 20h da noite. Todas as formas de oscilação possíveis de emissão de gases são exibidas no mapa em uma pequena tabela localizada no canto inferior direito, que representa por cores os números dentro do padrão de normalidade dos dados. A cor azul mostra as emissões mais brandas, enquanto a cor vermelha mostra as mais intensas.

       Ao analisarmos os números, podemos observar como a contaminação atinge os valores máximos em diversos locais, colocando em risco a saúde de todos.

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Emissões de CO às 19-20h da noite em São Paulo.

          De acordo com a CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), os carros são responsáveis por emitir 1,5 milhão de toneladas de monóxido de carbono, 386 mil toneladas de partículas de hidrocarbonetos e 367 mil toneladas de óxidos de nitrogênio, entre outros poluentes, por ano.

           Assim, é possível afirmar que com a utilização de bicicletas para a locomoção, você contribui diretamente para a redução da quantidade de emissão de gases poluentes e para uma cidade e mundo mais sustentável. Entretanto, segundo Babak Mohit, pesquisador do pós-doutorado da Faculdade Mailman de Saúde Pública da Universidade de Columbia (Estados Unidos), malhas cicloviárias deverão ser abrangentes o suficiente para que possam fazer uma significativa diferença no meio ambiente. Ele afirma que as ciclovias precisam ser estruturadas para que os habitantes substituam o uso de seus carros por bikes. Ele acrescenta: ciclovias mais seguras também incentivam as pessoas a pedalarem.

       O arquiteto e urbanista Raphael Pupo, de 25 anos, explica como as ciclorrotas são um caminho para atingir maior sustentabilidade na mobilidade urbana. “A melhora poderá ser vista de muitos aspectos”, afirma ele. “É um meio de transporte limpo, já que em seu uso não acontece a emissão de gases poluentes. É possível também se locomover através da cidade mais rapidamente, se a rota for bem planejada, já que o trânsito é evitado”. Segundo o urbanista, a delineação de ciclovias em grandes centros deve ser vista como um investimento estratégico.

SAÚDE E BEM ESTAR

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       A movimentação intensa e constante dentro da cidade tem suas vantagens para os moradores, como a variedade de funções e flexibilidade de horários comerciais, porém também apresenta suas consequências. O tráfego massivo de carros circulando nas ruas o tempo todo e a poluição advinda disso são fatores que influenciam diretamente a saúde e qualidade de vida dos habitantes que, com certa frequência, acabam recorrendo a métodos alternativos de locomoção, se afastando do uso diário do carro. A utilização da bicicleta no dia a dia, então, representa uma realidade para vários paulistanos que buscam utilizar das ciclovias como meio de transporte e de viverem de maneira mais saudável.

           Além dos benefícios estarem ligados à sustentabilidade e administração de tempo, o fator saúde também é de grande importância dentro da vida de alguém que pedala com certa frequência.

        De imediato, afasta o indivíduo do sedentarismo e promove o exercício físico, essencial para uma vida sadia. Exercer atividades físicas regularmente pode contribuir para a prevenção de doenças cardíacas e AVCs, hipertensão, diminui o estresse e ajuda a regular e evitar a diabetes de acordo com estudos feitos pela Universidade de Purdue, nos Estados Unidos. Através da pesquisa, foi concluído que pedalar regularmente corta os riscos de doenças cardiovasculares pela metade. De acordo com um estudo aprofundado pela Cephalea Headache Centre de Gotemburgo, na Suécia, andar de bicicleta pode suavizar até suas dores de cabeça.

         A estudante Beatriz Vulcano, de 23 anos, utiliza a bicicleta como seu principal meio de transporte dentro da cidade onde mora. Ela, residente de Atibaia, interior de São Paulo, assegura que se sente “mais disposta e ativa” e que pedalar todos os dias a guiou no processo de normalizar suas crises de enxaqueca.

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CICLOVIAS AO REDOR DO MUNDO

         Amsterdã, na Holanda, é considerada a melhor cidade do mundo para se pedalar. Mais da metade de sua população afirma possuir o hábito de pedalar diariamente e pelo menos 50% de seus habitantes utilizam bicicletas como principal meio de transporte. De acordo com dados oficiais, é estimado que o número de bicicletas seja três vezes maior do que o de carros e seus estacionamentos possuem dezenas de milhares de espaços para guardar as bikes. 

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Bicicletário em Amsterdam, Países Baixos. Foto: Mother Root / Guardian Witness.

          Porém, antes do início dos grandes investimentos feitos em ciclovias para estimular o povo a partir da década de 70, o uso da bicicleta era bem menor. Nos últimos vinte anos, o uso das bikes aumentou em 40% e esse número só tende a crescer, já que a administração pública anunciou que pretende, até 2020, melhorar a infraestrutura das ciclorrotas no país.

         Em Nova Iorque (EUA) as ciclovias foram melhoradas e são pautas constantes para investimento do governo. De acordo com Andrew Cuomo, governador do estado, existirão mais expansões na malha cicloviária e a metrópole terá impressionantes 1,2 mil km - a maior extensão de ciclovias do país. 

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Ciclovia em Nova Iorque, Estados Unidos. (Foto: Paul Krueger)

Jornal-laboratório do curso de Jornalismo do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo - Edição: Dezembro de 2019

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